sábado, 1 de novembro de 2014

Por que Windows 10?

Não sabendo se o “como sempre” se referia apenas às minhas colunas ou ao restante do TechTudo, respondi que em se tratando de uma coluna, nada a estranhar que tendesse para as preferências do colunista já que colunas servem justamente para exprimir opiniões e sugeri ao leitor que respeitasse a minha, exposta na coluna, da mesma forma que eu respeitava a dele em seu comentário.
Mas, no comentário, o que despertou minha atenção foi o fato do leitor lamentar minha ignorância das razões pela qual a Microsoft optou pelo número dez para batizar a nova versão (Veja na Figura 1, material de divulgação da MS). Uma coisa que ele já sabia por ter assistido um vídeo e lido uma “matéria”.
GPC20141031_1A Microsoft anunciou seu novo sistema operacional em setembro (Foto: Divulgação/Microsoft)
Bem, já que assim era resolvi verificar quem mais sabia além dele.
Curiosamente, descobri dois fatos interessantes. O primeiro, é que aparentemente muita gente sabia. E o segundo é que nem sempre o que um deles sabia combinava com o que o outro sabia.
Senão vejamos:
Já no dia primeiro do mês de abril do ano passado, Pete Babb publicava no InfoWorld o artigo “Microsoft skips ‘too good’ Windows 9, jumps to Windows 10” no qual revelou um bem guardado segredo da Microsoft. Dizia Babb, já naquela época, que a versão de Windows que sucederia Windows 8 seria denominada Windows 10, ou seja, nenhuma versão denominada Windows 9 viria a público, apesar de existir. E a razão era surpreendente: segundo certo profissional de relações públicas da MS citado por Babb e chamado Cheryl Tunt, a versão beta de Windows 9 já em uso pelos empregados da MS era tão extraordinariamente boa, que – e aqui vai a citação textual – “Microsoft has decided it will not mess with success and will leave Windows 9 exactly as it is. As such, work is now getting under way on Windows 10, which should see a public release” (a Microsoft decidiu que não deveria mexer com algo tão bem sucedido e resolveu deixar Windows 9 exatamente como estava. Assim sendo, o trabalho foi retomado no desenvolvimento de Windows 10 que, esta sim, viria a público).
Babb, ao que parece, conseguiu romper o véu de sigilo que cercava o assunto e, no artigo citado, fornece mais informações sobre a versão secreta, Windows 9. Que, segundo ele, seria “rápida, intuitiva, isenta de ‘bugs’ e se adaptaria igualmente bem tanto à Área de Trabalho de Windows quanto à interface estilo Metro” (na época da publicação do artigo a MS ainda não havia sido forçada judicialmente a abandonar a designação “Metro”). E prossegue Babb com um comentário intrigante: “’And who would’ve thought to put the Start button there?!? Genius!’ marveled one engineer, though it’s unclear where ‘there’ is exactly”. (“E quem teria imaginado colocar o botão Iniciar justamente naquele lugar?!? Coisa de gênio” comentou maravilhado um engenheiro, embora não tenha esclarecido onde, exatamente, seria “aquele lugar”).
O artigo – cuja leitura recomendo a quem gosta de se divertir – ainda prossegue por uns tantos parágrafos detalhando as características de um sistema fictício que, por ser tão bom, jamais viria a público. E, por isso, ficou guardado com seu número 9, o que fez com que a versão subsequente ostentasse o número dez.
Teria sido esta a “matéria” lida pelo leitor supracitado, que o fez saber a razão pela qual a MS pulou o “9”? Talvez. Mas, se foi, ele deveria ter atentado para a data de publicação: 01/04/2013. Por extenso: primeiro de abril de 2013. Enfatizando: PRIMEIRO DE ABRIL.
Quer dizer: era brincadeira.
Por não acreditar ser esta a fonte do saber de nosso amigo, parti em busca de coisa mais séria.
Então vamos lá (e, daqui para frente, não mais haverá brincadeiras como a de Babb).
Em seu artigo “Why did Microsoft choose Windows 10 instead of Windows 9?” publicado no sítio Techradar.Com, Desire Athow levanta uma hipótese mais verossímil, baseada na nova estratégia de atualizações que eu descrevi alhures. Segundo ela, todas as alterações que impliquem novas funcionalidades e melhoramentos no sistema operacional serão liberadas para os usuários domésticos assim que desenvolvidas pela MS. Com isto, Windows se tornará um sistema dinâmico, aumentando suas funcionalidades ao longo do tempo, o que eliminará a necessidade da emissão de futuras versões. Sendo assim, esta seria a última versão “numerada” de Windows e, para um caso como este, o uso do numeral “10” cairia melhor. O que, lembra ainda Athow, também poderia ser uma referência ao bem sucedido OS X da Apple, a décima iteração (daí o “X”, romano) do sistema operacional.
Isto faz sentido? Bem, parece um pouco forçado, mas não deixa de fazer. E se de fato for assim, Desire Athow também sabe a razão.
E não está sozinha. Mary Jo Fowley, uma das mais respeitadas jornalistas especializadas em TI dos EUA, em seu artigo “Microsoft christens the next version of Windows as Windows 10”, lembra que até recentemente a nova versão era conhecida nos corredores da MS seja por “Windows 9”, seja por seu codinome “Treshold” (“limiar”, em português). E corriam boatos que a MS poderia escolher como nome oficial uma das designações: “Windows X,” “Windows 365,” apenas “Windows” ou “Windows One.”
E prossegue Mary Jo: “Microsoft went instead with Windows 10 because they wanted to signify that the coming Windows release would be the last “major” Windows update. Going forward, Microsoft is planning to make regular, smaller updates to the Windows 10 codebase, rather than pushing out new major updates years apart”. (A Microsoft, em vez disso, escolheu Windows 10, querendo significar que esta versão seria a última “grande” atualização de Windows. Daqui para frente a MS planeja gerar atualizações regulares e de pequeno porte do código base de Windows em vez de liberar grandes atualizações separadas por alguns anos”).
Como se vê, Mary Jo também sabe o porquê do Windows 10 e, neste caso, a razão é bastante parecida com a hipótese levantada por Desire Athow.
Mas há outras. Lendo o artigo “Why Did Microsoft Brand Its Next OS Windows 10?” de Marco Chiappetta publicado no sítio da revista Forbes, descobre-se inclusive a razão “oficial”, ou seja, a divulgada pela MS no evento de lançamento da “Technical Preview” da nova versão em 30 de setembro passado. Segundo Chiappetta, “a MS não achava correto chamar a atualização de Windows 9 devido ao grande número de alterações que trazia e porque ela desejavam transmitir uma sensação de uniformidade e unicidade”. Chiappetta prossegue declarando que não ficou claro para ele (assim como para mim) “de que forma um número maior, de dois algarismos, mostra mais uniformidade que um ‘9’ que pode ser escrito… com um só traço”. E sendo esta a razão, por que então não escolher Windows One?
Mas Chiappetta prossegue declarando que ele próprio tem uma opinião sobre o assunto. Segundo ele, a razão principal (que coincide com minha opinião, mas quem sou eu para dar pitaco em uma questão inextrincável como esta) seria manter a maior distância possível entre esta versão e Windows 8. Mas levanta ainda outros possíveis motivos: considerando que a data de lançamento oficial deverá ser próxima daquela em que o iOS 9 deve ser liberado, Windows 10 soaria como algo mais avançado que o concorrente.
Quer dizer: Chiappetta não apenas sabe uma, mas diversas razões.
Por outro lado Lee Mathews, no artigo “Why Windows 9 is Windows 10” (cujo título me parece o mais esclarecedor dentre os de todos os demais artigos citados) publicado no Geek.com levanta pelo menos mais duas hipóteses. A primeira, menos crível: que a MS quis fugir do ritmo “boa-versão-má-versão”. E explica: as versões boas de Windows se sucedem no ritmo “uma sim, uma não”. Citando suas palavras: “XP foi boa, Vista foi Ruim, Windows 7 foi soberba, Windows 8 foi ruim e Windows 8.1 foi melhor. Windows 9, claramente, seria então puro lixo, então a MS partiu diretamente para o 10 – da mesma forma que as construtoras costumam pular o andar de número 13 quando constroem edifícios altos” (essa prática de evitar o 13º andar é típica dos EUA).
Nessa hipótese, que Mathews afirma estar sendo efetivamente aventada por alguns, parece que nem mesmo ele acredita. Mas – e nesta outra parece acreditar– a aparente anomalia numérica seria uma indicação de que a MS sinaliza estar se movendo em nova direção. E que esta direção a leva para longe de produtos que os usuários acham pouco intuitivos e acabam furiosos por terem que usá-los, como uma interface desenvolvida para o toque em um computador que não dispõe de tela sensível ao toque (e, neste ponto, eu e ele estamos inteiramente de acordo, mesmo que achem minha opinião tendenciosa). Em vez disso a MS se volta para coisas familiares ao usuário e que fazem sentido no tipo de computador em que estão sendo usadas, como um sistema que inteligentemente adapte sua interface à configuração corrente (e neste caso Mathews claramente se refere à função “continuum”, também descrita por mim alhures) e, simplesmente, funcione.
O que para mim faz todo o sentido.
Por último, Mathews cita a justificativa para o número da versão dada por Joe Belfiore, o vice-presidente da MS responsável pela equipe que desenvolve Windows 10,:“This product, when you see [it in its], fullness I think you’ll agree with us that it’s a more appropriate name.” (quando você vir este produto em toda sua inteireza vai concordar conosco que este é o nome mais apropriado). O que talvez não seja a razão maior, mas que possivelmente tenha exercido alguma influência. Afinal, o número “dez”, seja onde for, tem um certo sentido de “o melhor” ou algo parecido.
Portanto também Mathews, como o leitor citado lá em cima, sabe a razão do número dez.
Mas o estoque de sapientes ainda não acabou. Eu poderia citar muitos mais, porém vou me limitar a três, e bem resumidamente para não encompridar demais esta coluna.
Nick Statt, em artigo para o sítio da CNet intitulado “Is this why Microsoft named it Windows 10?” sugere diversas hipóteses (razões de mercado, “afastar-se” de Windows 8 e outras), mas faz crer que a mais provável é a da “verificação de compatibilidade” – que já explicarei.
Ian Paul escreve na PC World o artigo “Why Windows 10 isn’t named 9: Windows 95 legacy code?” também apontando a mesma razão.
E, finalmente, Yoni Heisler, no artigo “Why did Microsoft skip Windows 9 and jump to Windows 10?”, depois de sugerir que uma possível razão seria o desejo da MS de indicar que o lançamento da próxima versão de Windows seria tão importante que mereceria um “dez” da mesma forma que o OS X marcou um recomeço para a Apple, também aponta como mais provável a da “verificação de compatibilidade”.
Mas o que vem a ser isto?
Simples.
Quando se invoca a carga de um programa clicando em seu ícone, a primeira função que ele cumpre ao ser carregado na memória é verificar em que versão de sistema operacional está rodando. Isto é feito por meio de alguns laços condicionais do tipo “If… Then… Else…” que, em língua de não programador, consiste em verificar a veracidade de uma condição (“if”, ou “se” verdadeira) e, caso venha a ocorrer, então (“then”) fazer isso mas, do contrário, (“else”), fazer aquilo.
No caso específico da verificação de compatibilidade a coisa fica assim: se {o sistema operacional for incompatível} então {avise o usuário e saia}, do contrário {continue rodando}.
Estranhou? Sim, de fato uma coisa parece nada ter a ver com a outra. Pelo menos até nos lembrarmos das versões Windows 95 e Windows 98, ambas antigas e dificilmente compatíveis com qualquer programa moderno. Nesse caso (se você quiser uma versão mais parecida com um código de programação, consulte o artigo de Yoni Heisler), para evitar rodar em uma dessas versões, um grande número de programas de terceiros efetuam a seguinte verificação:
Se {o número designador da versão começar com “9”} então {avise o usuário e saia}, do contrário {continue rodando}.
E se a nova versão fosse Windows 9, não passaria no teste de compatibilidade.
Quem levantou esta hipótese foi um certo Cranbourne, usuário da rede social Reddit, que alega ter sido programador da Microsoft e que postou aqui suas suspeitas.
Faz sentido? Talvez. Muito plausível não é, mas bem que poderia ser verdade.
E, se for, como o leitor lá de cima, Nick Statt, Ian Paul e Yoni Heisler também sabem a razão do nome Windows 10.
Quer dizer: parece que todo o mundo sabe, menos eu…
O problema é que o que cada um “sabe” não confere com o que sabem os demais.
E, assim de repente, por alguma razão que não sei explicar, me veio à mente um velho provérbio chinês:
“Aquele que sabe e sabe que sabe, é um sábio; siga-o.
Aquele que sabe e não sabe que sabe, está dormindo; acorde-o.
Aquele que não sabe e sabe que não sabe, merece ser ensinado; ensine-o.
Aquele que não sabe e pensa que sabe é um tolo; fuja dele
Pois é…
B. Piropo

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